domingo, 22 de abril de 2012


CONGLOMERADOS DE MODA


Texto: andréa gusmão 
Fotos: 
bruna manzano e divulgação

VENDEDORES DE SONHOS

Sabe-se que os sonhos são o alimento da alma, e quem alimenta hoje o que as almas vão vestir ou desejar amanhã são os dirigentes dos conglomerados de luxo, megaempresas que reúnem as marcas mais cobiçadas do planeta. As grandes grifes internacionais, como Prada, Gucci, Dior e Louis Vuitton, pertencem a esses verdadeiros impérios vendedores de sonhos.
Esse movimento é relativamente novo na história da moda e do luxo. os três maiores grupos, lvmh, pinault-printemps redoute (ppr) e richemont, foram concebidos há menos de vinte anos, e são responsáveis por comandar as grifes mais glamourosas do mundo, bancando as criações desfiladas em paris, londres, milão, nova York e permitindo que marcas históricas como, pucci, Yves Saint laurent e louis vuitton, continuem existindo.
Com a moda cada vez mais globalizada, os designers precisam de parcerias milionárias para produzir mais e distribuir para todas as partes do mundo. é tudo muito diferente da época em que havia sempre um personagem forte, de carne e osso, por trás da grife, como gabrielle chanel e christian dior. eles estavam à frente de tudo: criação, estilo, negócios, costura e modo de vida dos clientes. desde que o dinheiro tornou-se a alma do negócio, são os bilhões desses impérios que permitem a produção de sonhos e lucros igualmente fabulosos. o maior deles é o lvmh (moët hennessy – louis vuitton), comandado pelo ultrapoderoso empresário francês bernard arnauld, que foi o precursor da idéia de tornar o luxo, um atrativo campo de exercício para o mercado financeiro. o objetivo tornou-se a criação de produtos de excelente qualidade, em grande quantidade, acessíveis ao que seria uma classe média alta em escala global, mas suficientemente raros para conservar a aura de exclusividade e o preço elevado.
O LVMH engloba diversos segmentos do negócio do luxo, compreendendo fabricantes de roupas, perfumes, jóias, relógios e bolsas, e também produtores de vinho e lojas de departamento diferenciadas, como le bon marché e Samaritaine. em seu portifólio estão atualmente algo em torno de 50 marcas - entre moët chandon, hennessy, louis vuitton (que há 15 anos apresenta crescimento anual de dois dígitos), fendi, givenchy, Kenzo, marc jacobs, loewe, donna Karan, perfumes dior, eluxury e a fantástica rede de cosméticos Sephora – justificando sua posição de maior holding de artigos de luxo do mundo.
Outro peso pesado da moda é o grupo ppr, comandado por françois pinault, também francês, realizador e audacioso como seu rival bernard. com a subdivisão do grupo gucci, a holding é dona de marcas como balenciaga, bottega veneta, alexander mcqueen, Stella mccartney, YSl, puma e até da fnac e printemps.
O terceiro grupo no topo desse mercado é o grupo richemont, dessa vez suíço. a frente desde 1988 está o sul-africano anton rupert e entre as 16 marcas da cartela estão cartier, van cleef & arpels, montblanc, alfred dunhill e chloé (além de uma participação estratégica na british american tobacco, que rende mais do que as demais reputadas grifes sob seu controle).
Menores, mas não menos notáveis, há também os grupos premira, que recentemente adquiriu o grupo valentino; o discreto mini-holding da família Wertheimer, com 100% da chanel, eres lingerie, tanner Krolle, holland & holland e alguns fabricantes de vinhos.; o grupo prada, que também inclui miu miu e car Shoe; o conglomerado phillips-van heusen, com calvin Klein, michael Kors, Kenneth cole, bcbg, Speedo e geoffrey beene; e ainda o grupo da diesel, que alem da marca homônima ainda possui a maison martin margiela, dSquared e Sophia Kokosalaki.
FUTURO
Após o frenesi dos anos 90, uma verdadeira era da “logomania” que impulsionou a criação e fortalecimento dos conglomerados de luxo, vê-se hoje a retomada de um antigo movimento, mas com roupagem contemporânea: o do resgate da valorização da qualidade, técnica artesanal e senso de valor. além disso, do desejo pelo local, específico e único – verdadeiros atributos do luxo. talvez por isso os consumidores estejam começando a descobrir os designers independentes, capazes de produzir peças originais. intui-se que esse movimento levará ao ressurgimento de pequenas empresas de criação e design, na tentativa de tornar o varejo mais local e menos global, e que as grandes corporações terão cada vez mais que encontrar maneiras de criar e manter portifólios diferenciados para manter sua atratividade. os grandes grupos já perceberam essa tendência. a gucci oferece prêt-a-porter sob medida. a louis vuitton, edições limitadas. o compromisso agora não é abocanhar novas marcas, mas tornar as que já foram compradas irresistíveis. tudo indica que essas duas vertentes terão espaço simultâneo nas mentes e sonhos dos consumidores.

CONGLOMERADOS BRASILEIROS

Há algum tempo que a moda tornou-se muito ma is do que simples glamour, modelos bonitas na passarela e tendências para as próximas estações. Pa ra entender de moda hoje é preciso entender também de economia e negócios. Os conglomerad os de moda chegaram ao Brasil, pelo jeito, para ficar e crescer. Esta prática é uma tendência que está na ativa na Europa e nos Estad os Unidos desde o início dos anos 90, mas o que exatamente isso significa? Significa que empresas de moda acabam se unindo a grupos de investidores com o intuito de que suas marcas cresçam tanto nacional como internacionalmente.
No Brasil, o primeiro grupo a iniciar esta prática foi o AMc têxtil que pertence à família Menegotti. A família de santa catarina, que já era dona da empresa Menegotti Malhas, comprou as marcas sommer, de Marcelo sommer e colcci, de lila colzani. Hoje eles também compraram as marcas carmelitas, o licenciamento da linha têxtil da coca-cola e, mais recentemente as marcas do grupo tF, triton, Forum, Forum tufiDuek e tufiDuek. segundo Alexandre Menegotti, diretor do grupo, a AMc é hoje o maior conglomerado de moda do Brasil e teve só no ano passado um faturamento por volta dos r$500 milhões. Mas para as pessoas que desejam comprar ações do grupo, isso ainda não será possível, pois o próprio Alexandre diz “a AMc é uma empresa familiar e não pensamos em abertura de capital, pois da maneira que estamos agindo temos custos menores”. Duek ressaltou que sua intenção ao vender o tF foi realizar o antigo sonho de fazer parte do maior grupo de moda do país e que após mais de 30 anos de dedicação às marcas, resolveu voltar à sua origem profissional, que é cuidar da parte criativa. segundo o estilista, ele encontrou no AMc têxtil um grupo sólido, também com mais de 30 anos de história e que lhe permitiu dar continuidade aos projetos programados para o grupo tF. entre estes projetos está a abertura de dez lojas em 2008 – das quais quatro já foram inauguradas – e a expansão das marcas no mercado internacional. segundo Menegotti, o tF é um grupo saudável, bem posicionado e lucrativo – com faturamento de r$ 225 milhões líquidos em 2007 – e que não há grandes mudanças a fazer em sua estrutura. comentou também a intenção de manter os profissionais e parceiros do grupo.
Outro grupo que também vem crescendo é o inBrands, holding que cuida de toda a parte logística e financeira das grifes ellus, 2nd Floor e isabela capeto. neste ano estima-se que o faturamento da empresa será de r$ 500 milhões e em dois anos pretendem duplicar este faturamento. A grande promessa do grupo, segundo nelson Alvarenga, um dos sócios da holding, é fazer com que as marcas não percam sua identidade. não perder a identidade foi também a afirmação feita pela AMc ao fechar contrato com o grupo de tufiDuek. o próprio tufificou encarregado de toda a direção de criação e estilo das marcas por três anos com contrato reno-vável automaticamente.
Entre estes grupos que vêm crescendo, porém, o identidade Moda (íM), pertencente ao HlDc investimentos, que em janeiro anunciou a aquisição das marcas de Herchcovitch, Fause Haten, clube chocolate, Zoomp e cúmplice, acabou perdendo duas de suas aquisição em menos de seis meses e com isso perdendo também muito dinheiro. o primeiro a se desligar da íM foi Herchcovicth que em abril desfez o negócio e perdeu assim seu cargo de diretor de estilo da Zoomp e de curador da própria íM. porém, conseguiu manter as marcas que levam o seu nome. o outro desligamento que ocorreu dias antes da spFW foi o de Fause Haten. o estilista além de tudo perdeu a sua marca, pois já havia concluído a venda. criou uma marca independente, a FH, que desfilou na última edição do spFW. segundo Fause, “não perdi a minha marca. A minha marca sou eu, minha cabeça, minhas mãos. onde eu estiver, minhas clientes estarão”.
O motivo pelo qual estes problemas aconteceram com a íM foi que os estilistas que venderam as suas marcas (no caso de Herchcovicth não foram concluídas as negociações) afirmam que não viram o crescimento esperado e, em alguns casos, foi citado que nem mesmo o pagamento pela compra da marca foi feito pela empresa. talvez por pura ingenuidade e por achar que iriam fazer milhões logo no início, a íM esqueceu-se dos milhões que deveria gastar com investimentos em qualidade e expansão das marcas. logo, acabou tornando- se um conglomerado que não deu certo antes mesmo de sua ascensão.

Contribuição de Joana Vilela

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